Falo em tomar banho de cachoeiras, porque essa prática me acompanha desde criança. Na realidade, sou originário das famílias, Pignaton e Grazzziotti, que sempre gostaram muito de passear pelas matas, usufruir da natureza, como tomar banho nas inúmeras cachoeiras de nossa região, subir ao topo das montanhas que nos cercam, que também são muitas, enfim, viver a vida distante das incomodações do dia a dia das cidades, como vivem as pessoas de origem nativa.
Meu pai gostava muito de pescar, mas a maioria dos seus irmãos adoravam caçar. Na época deles jovens e na meia-idade, era comum as pessoas terem espingardas em casa e cachorros, porque a prática de caçar não era proibida como hoje, com o advento da lei 9. 605/98, que combate atos lesivos ao meio ambiente. Sair para as matas para caçar, era o divertimento e tradição dos fins de semanas entre a maioria dos descendentes de imigrantes italianos. Estes, provavelmente nos primeiras décadas que aqui no Brasil chegaram, não tinham estes hábitos. na verdade, deveriam achar estranho abater e comer carne de caças, como faziam os nativos da região, exatamente por serem oriundos de uma País que animais silvestres eram escassos, ou então nem existiam, pelo menos s espécies que viam aqui. Porém, seus filhos, filhos da geração anterior, e até alguns da que pertenço, depois de adquirirem o costume de pescar, caçar e comer a carne dos animais abatidos, como a paca, veado, tatu, lagarto, jacaré e de alguns pássaros como jacupemba, macucu, tururim, juriti, inhambu, os quais existiam extremamente em abundância nessa nossa região, passaram então a praticarem as caçadas com mais intensidade e como um verdadeiro esporte. Muitos inclusive viviam comercializando a carne de caças ou peixes, destes, até recentemente um comércio comum, principalmente de camarão e lagosta, que pegava-se em arroubas na região da baixo Barragem, onde a água já é relativamente salobra, propícia para a reprodução de peixes e crustáceos. A paca e o veado eram os animais nobres que eram perseguidos e tinham a carne mais apreciada.
Até uns quarenta anos atrás, quando Ibiraçu começou a instalar serrarias para abastecer com tábuas de taipas de madeiras nativas as construções das dezenas de inúmeros conjuntos habitacionais de Vitória e adjacências, o entorno de nossa cidade era tomado acirradamente por matas nativas, algumas praticamente dentro do perímetro urbano, como era a matinha que havia no bairro Boa Vista na divisa com o terreno da família Boff, hoje bairro Bela Vista, na cabeceira da Biquinha e no bairro Elias Campagnaro, onde havia a matinha da Gruta, quando era comum presenciarmos animais silvestres praticamente na rua. Muitas foram as oportunidades que vi pássaros, como tucano, araçari, juriti e outros praticamente dentro das ruas de Ibiraçu.
Por fim, a perseguição fugiu do controle e os caçadores as vezes abatiam inúmeros animais, muitas vezes para pegar, olhar e jogar fora, o que os levou praticamente a extinção. Hoje, resta-nos somente as lembranças de um tempo em que as caçadas e pescadas eram possíveis, não reprendidas e praticamente o único divertimento que existia, mas era um tempo em que as pessoas se sentiam mais felizes, mesmo com toda modernidade dos dias atuais, porque nada substitui uma caminhada pelas florestas para espraiar ao estres que o mundo moderno tem nos proporcionado. Vivíamos aqui literalmente no meio da floresta, como tentam fazer hoje os milhares de turistas europeus que anualmente visitam a Amazônia, correndo atrás de um sonho que para nós ibiraçuenses um pouco mais antigos fora uma realidade, mas que jamais aqueles terão a mesma liberdade, porque o mundo era isento das maldades atuais, ainda que abater animais seja hoje uma absurda ignorância, mas outrora muito comum, diante da quantidade que existia, provavelmente insertas na natureza por Deus para alimentar o homem, mas que este não soube ter controle e acabou, com suas estupidez, se tornando o verdadeiro animal substituto dos animais que abatiam.
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