Às vezes imagino que sou uma pessoa de sorte por ter a
oportunidade de viver em mais de um ambiente. Resido em Ibiraçu, cidade que
nasci e amo, e ao mesmo tempo trabalho em
outra cidade, onde passo a semana, apesar de ser numa cidade com as mesmas
características de Ibiraçu, mas de pessoas diferentes para se conviver, porque elas nos trazem fatos
desconhecidos.
Quando estou trabalhando, normalmente penso em Ibiraçu e na
família, e quando em casa estou, tenho pouco a fazer. Então, passo a imaginar como é difícil às pessoas que
moram e trabalham na mesma cidade praticamente
a vida inteira e ter que enfrentar o marasmo em que ela se transforma.
Ibiraçu é um excelente lugar para se morar, criar a família
e para se descansar. Mas, mesmo com todo o carinho e amor que sentimos pela
cidade da gente, é extremamente difícil de viver, por que nada de diferente acontece.
Quando estou em Ibiraçu, acordo antes do sol nascer e me
dirijo a padaria para tomar café, ler os
jornais, e encontrar pessoas amigas para
bater um papo e colocar a conversa em
dia. Por volta das sete horas, retorno para casa com os pães, quando então começo
a me perguntar o que poço fazer naquele resto de dia, exceto me postar diante
do computador?
São raríssimas as opções para se ocupar e passar o dia numa
cidade pequena. Tem-se que enfrentar restrições dos que falam que falamos da vida
alheia se estamos na rua, se ficamos em casa, somos interpretados como
recalcados, se vamos ao bar ver uma partida de baralho ou tomar um guaraná, somos
vistos como alcoólatras. Enfim, apesar da vida pacífica que se tem nas pequenas
cidades, pouco temos para fazer, exceto obedecer o cotidiano, ou seja, trabalhar,
ir a igreja, ou conversar com as mesmas
pessoas de sempre e nos mesmos horários.
A vida não é muito fácil de ser levada em qualquer lugar do
planeta, mas nas cidades pequenas, se torna muito mais difícil, principalmente
quando não se tem opções diversificadas. Talvez seja por isto que a
política se acirra nos municípios pequenos,
porque eleições, que são de dois
em dois anos, é na verdade á única
coisa que modifica o ambiente destas cidades pequenas,
quando então fica tudo por conta da campanha, ou seja, se está na esquina,
está falando de política, então
pode.
Para mim que tenho
cinquenta anos e uma vida estável, até
que reunimos forças para enfrentar estas
dificuldades, mas aos jovens, é
absolutamente complexo conviver
com situações assim, exceto que façam o mesmo que faço, trabalham em outras localidades e elegem Ibiraçu para se morar, o que acaba se tornando um privilégio a quem
essa proeza alcança. Do contrário, pode ser tomado pelo tédio que o mesmismo produz. Mais privilegiado do que isso, só os que trabalham e moram na nossa cidade, ou então,
ser aposentado. De qualquer forma, nosso amor pela cidade vai ser para sempre, morando, trabalhando, ou ausente, mesmo sem qualquer opção que ajuda-nos a espraiar os pensamentos. Contudo, particularmente tenho esse divertimento de escrever, o que me energiza para os desafios da vida.
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