quinta-feira, 26 de abril de 2012

O MARASMO DAS PEQUENAS CIDADES

Às vezes imagino que sou uma pessoa de sorte por ter a oportunidade de viver em mais de um ambiente. Resido em Ibiraçu, cidade que nasci e  amo, e ao mesmo tempo trabalho em outra cidade, onde passo a semana, apesar de ser numa cidade com as mesmas características de Ibiraçu, mas de pessoas diferentes  para se conviver, porque elas nos trazem fatos desconhecidos.   

Quando estou trabalhando, normalmente penso em Ibiraçu e na família, e quando em casa estou, tenho pouco a fazer. Então,  passo a imaginar como é difícil às pessoas que moram  e trabalham na mesma cidade praticamente a vida inteira e ter que enfrentar o marasmo em que ela se  transforma. 

Ibiraçu é um excelente lugar para se morar, criar a família e para se descansar. Mas, mesmo com todo o carinho e amor que sentimos pela cidade da gente, é extremamente difícil de viver, por que  nada de diferente acontece.

Quando estou em Ibiraçu, acordo antes do sol nascer e me dirijo a padaria para tomar  café, ler os jornais,  e encontrar pessoas amigas para bater um papo e colocar a  conversa em dia. Por volta das sete horas, retorno para casa com os pães, quando então começo a me perguntar o que poço fazer naquele resto de dia, exceto me postar diante do computador?

São raríssimas as opções para se ocupar e passar o dia numa cidade pequena. Tem-se que enfrentar restrições dos que falam que falamos da vida alheia se estamos na rua, se ficamos em casa, somos interpretados como recalcados, se vamos ao bar ver uma partida de baralho ou tomar um guaraná, somos vistos como alcoólatras. Enfim, apesar da vida pacífica que se tem nas pequenas cidades, pouco temos para fazer, exceto obedecer o cotidiano, ou seja, trabalhar, ir a igreja,  ou conversar com as mesmas pessoas de sempre e nos mesmos horários.

A vida não é muito fácil de ser levada em qualquer lugar do planeta, mas nas cidades pequenas, se torna muito mais difícil, principalmente quando não se tem opções diversificadas. Talvez seja por isto  que  a política se acirra nos municípios pequenos,  porque eleições, que são  de dois em dois anos, é na verdade  á única coisa  que  modifica o ambiente destas cidades pequenas, quando  então fica tudo  por conta da campanha, ou seja, se está  na esquina,  está falando  de política, então pode. 

Para  mim que tenho cinquenta anos e  uma vida estável, até que  reunimos forças para enfrentar estas dificuldades, mas aos  jovens,  é  absolutamente complexo  conviver com situações  assim,  exceto que façam o mesmo que faço,  trabalham em outras localidades e  elegem Ibiraçu para se morar, o  que acaba se tornando um privilégio a quem essa proeza alcança. Do contrário, pode ser tomado  pelo tédio que o mesmismo produz.  Mais privilegiado do que isso, só os que  trabalham e moram na nossa cidade, ou então, ser aposentado.  De qualquer  forma, nosso amor pela cidade  vai ser para sempre, morando,  trabalhando, ou ausente, mesmo sem qualquer opção que ajuda-nos a espraiar os pensamentos. Contudo, particularmente tenho esse divertimento de escrever, o que me energiza para os desafios da vida.


   

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