Prosseguindo
com o resgate de fatos e acontecimentos de Ibiraçu para enriquecer nossa
cultura, esta semana convidamos o ibiraçuense, senhor Orlando Furieri, 91 anos,
que relata como era nossa cidade quando ele era jovem.
Nosso projeto
tem por finalidade trazer detalhes da história da formação de nossa sociedade,
da vida que as pessoas levavam, e assim resgatar valores que aumentam o acervo
de detalhes de Ibiraçu e do seu honroso
povo.
Ibira Sul:
Em que lugar de Ibiraçu foi a primeira sede da família Furieri?
Sr. Orlando Furieri: Os Furgeri, como na verdade era a
escrita original do meu hoje sobrenome, devido o tabelião ter “comido” o “G” do
nome e o substituído por “I” e todos da família passaram a registrar Furieri,
era no Morro do Aricanga, depois da casa da família de Dionsío Moro. De lá
desceram para esta região onde hoje é São Cristóvão, adquirida pelo senhor
Joaninho Furieri, que morava ao lado do prédio onde funciona a Parada Sfalsin.
Senhor Orlando Furieri, um autêntico ibiraçuense e botafoguense
Ibira Sul: Lembra-se bem da estrada de ferro que
passava por dentro de Ibiraçu?
Sr. Orlando Furieri: Sim! Éramos crianças e brincávamos no poço novo que
havia no rio Taquaraçu, bem debaixo da estrada de ferro construída anos antes da minha infância, mais ou menos aonde é hoje a
oficina de Aroldo Eletricista. O rio foi desviado pela empresa que fez a
estrada de ferro Vitória a Minas. O
leito normal seguia por onde hoje é a rua, atrás do posto Padre Eustáquio, e passava
em frente a casa que morava Jacob Pignaton. O leito só retomava o seu curso normal no referido poço,
onde havia uma pilha de dormentes que servia de ponte para trem.
Ibira Sul: Como eram nossas lideranças políticas?
Sr. Orlando Furieri: A política era mais nojenta do que
hoje(risos). Existiam dois partidos. O PSD, liderado pela família Bonesi, família
Santana, e por Costantino Furieri, e o PRP, onde estavam as pessoas da
oposição. Na revolução de 1930, os opositores ao governo comemoraram com fogos
de artifícios, que, devido o silêncio de então, diferente do barulho de hoje,
ouvia-se ruídos longe, bastando ter. Na localidade de Sapateiro, Bepe Pignaton,
que morava próximo a casa de Bepe Cao,
gritou ao ouvir e ver o clarão dos fogos: “fogo na rua Bepe”. Um homem
muito influente politicamente de Ibiraçu
naquela época era o senhor Bepe Batisti. Ele não tinha cargo político, mas era igual a um Juiz, ou Delegado. Igual um coronel!
Numa ocasião, o Delegado da cidade João Loureiro prendeu um homem, e Bepe Batisti decidiu
soltá-lo, pedindo reforço à conhecidos de
Barra do Trinfo que vieram. Juntos, soltaram o sujeito na “marra”, tendo Bepe
Batisti até falado ao Delegado: “aqui em
Pau Gigante, quem manda sou eu”.
Contudo, era um homem bom e trabalhador. Fez um engenho de café, que ficava
atrás do campo do Marcão, onde pilava café e as máquinas eram tocadas por uma
canalização d´água do próprio rio Taquaraçu que era captada em frente ao posto
de gasolina Padre Eustáquio, e que próximo ao engenho atravessava sobre o leito em uma cantoneira de madeira
grande e a bica da água jorrava no engenho.
Ibira Sul: E a revolução de 1930?
Sr. Orlando Furieri: Uma tropa do Exército vinda de Minas
Gerais desembarcou na estação Lauro Miller e os soldados se acomodaram com suas pesadas armas no morro onde hoje
está o Fórum de Ibiraçu. Começaram até a construir trincheiras, mas dias
depois, chegou uma determinação para suspender o combate que a revolução havia
acabado. As tropas capixabas ficaram de prontidão em Vitória, onde, inclusive, ocorreram mortes.
Seu Orlando numa festa em Pendanga com os amigos,
Cesar Furieri, os irmãos Lúcio e Américo, Ângelo
Tassan, Jacob Pignaton e Felisberto Conti
Ibira Sul: E a vida dos jovens naquela época,
como era?
Sr. Orlando Furieri: Éramos dedicados a nossa igreja
católica. Participava da Congregação Mariana, junto com outros jovens, dentre eles, praticamente todos os
filhos do meu padrinho Bepe Pignaton e muitos outros de Ibiraçu e do interior.
As vezes saíamos para festas, lembrando-me de uma que fui em Pendanga,
quando o fotógrafo daquela localidade
era Atílio Zandomênico que fez uma
fotografia. O tempo era bom e mais tranquilo e nos dá saudades.
OBS: Adiantamos
a entrevista, que são aos domingos, por que
vou trabalhar esta noite em Colatina, donde saio as 06:00 horas e sigo praticamente
direto para São Mateus, onde serei padrinho de batizado as 08:00 horas.