domingo, 13 de maio de 2012

ENTREVISTA: MARIA ADELAIDE PIGNATON ROSALÉM


Neste domingo, dias das mães, temos o prazer de termos em nossa Entrevista a senhora Maria Adelaide Pignaton Rosalém, nossa tia, 85 anos, casada com Natalino Rosalém, que nos traz bonitas e importantes recordações de Ibiraçu e da vida que os moradores levavam à época de sua infância. Dona Mariquinha, como é carinhosamente chamada por todos, morou até 1955 em Sapateiro (Cascata), quando casou e foi morar no Morro do Aricanga, onde ficou até 1957, e depois veio residir no centro da cidade de Ibiraçu, numa casinha aos fundos da casa de seu irmão Benjamim Pignaton, na avenida Getúlio Vargas. De lá, alguns anos após, veio morar na avenida Cond´Eu, centro de Ibiraçu, aonde se encontra até o presente.

                          Dona Mariquinha, um exemplo de vida

Ibira Sul:  Como eram os estudos em Pau Gigante, na época de sua infância?

Dona Mariquinha:  Os estudos nas escolas mais distantes do centro urbano ofereciam ensino somente até o quarto ano. Quem quisesse prosseguir um pouco mais, tinha que se deslocar para o grupo no centro da cidade, que funcionava aonde é hoje o CRP – Complexo Cultural Roque Peruch. No grupo escolar do centro, a professora era Dona Ericiana, que para atender todos os alunos, dava aulas de manhã e de tarde. Nós, que éramos alunos da região que hoje é o bairro São Cristovão, estudávamos no grupo que havia atrás do hoje comércio  denominado Cascatão, que ficava do outro lado  da linha, frontal a venda de Ernesto Maioli, onde os alunos, quando tinha uns trocados, compravam alguma coisa. A professora do grupo escolar em que estudava era dona Antônia Oliveira, esposa do então Delegado de Polícia da cidade, Pedro Alcântara.  

Ibira Sul:  E o atendimento a saúde, era precário naquele tempo?

Dona Mariquinha:  Era! Tinha um médico. Somente doutor Barroso atendia no centro da então cidade de Pau Gigante, na própria casa, que ficava onde é hoje o prédio Otaviano Modenesi. Muitas pessoas, principalmente descendentes de italianos, quando adoeciam, chamavam inicialmente Basílio Pignaton, filho de Domingos Pignaton, um homem entendido e educado que morava aonde é a propriedade dos herdeiros de Deolindo Batisti, entrada da localidade de Taquaraçu. Se o Basílio, que mesmo não sendo médico, recomendasse ir a um médico, deveria ser feito, por que ele era uma pessoa confiável. Basílio me salvou, ao descobrir que tinha pneumonia e me encaminhou ao doutor Barroso.


Quanto a dentistas, não havia. Meu pai, Bepe Pignaton, foi à cavalo na fazenda da família Bitti, em Santo Antônio, Ibiraçu, e contratou o único  dentista que existia, que era de origem alemã, chamado doutor Hans Krauz(possivelmente esta seja a grafia) e que trabalhava de maneira ambulante pelas regiões, bastasse ser contratado. Ele veio com a esposa, Ema Brotto, tia de Joacir Brotto, e um filho, para ficarem três meses, tratando os dentes exclusivamente das pessoas da família. Porém, na época, havia duas empresas estrangeiras construindo a nova estrada de ferro e os túneis em Pau Gigante, chamadas Morrisson e Gazon(possivelmente a grafia), onde trabalhava o meu irmão Jacob Pignaton. Como ele era amigo dos demais funcionários, levou a notícia do dentista. Então, muitos funcionários, passaram a tratar os dentes lá em Sapateiro. Com aquilo, o dentista doutor Hans acabou morando na casa dos Pignatons um ano e meio. De lá foi para a então vila de João Neiva, onde seu filho adotivo, conhecido por “Pup”, morreu de doença. Depois não tivemos mais notícias. Ele falava um português enrolado e gostava de brincar de baralho com as crianças, fazendo truques e dar gargalhadas. Também era hábil em moldar dentre de ouro, o serviço e a moda exigidos na época. O dentista ganhou muito dinheiro.

Ibira Sul: E a vida social da família e das pessoas de então?

Dona Mariquinha:  Meu pai, Bepe Pignaton, em companhia dos outros moradores de Sapateiro, todos  os sábados  vinha para a igreja matiz  trabalhar na construção. Isso durante anos. Traziam comida, e só retornavam a noite, já escuro. Ele, assim como todos os demais  Pignatons, eram dedicados a  igreja católica, e defensores do partido Integralista, que tinha sede do lado aonde hoje é o supermercado Devens.  Os Pignatons, desde aquela época, gostavam de política. Meu pai era uma espécie de liderança, principalmente nos afazeres da igreja católica. Mulheres não votavam naquela época. Nos meses de maio de todos os anos, mês da mãe Maria, a igrejinha de São Miguel Arcanjo, em Sapateiro, construída por minha mãe Angelina Spnassé Pignaton, celebrava, todos os dias, no horário noturno, a reza, onde todos os moradores e as crianças  se encontravam e participavam. A igreja era a principal interação social.     

Ibira Sul:  E a vida, era divertida, diferente de hoje?

Dona Mariquinha:  Sim. Tínhamos poucas coisas para fazer, mas era divertido, por que não havia o que vemos hoje. Meus irmãos facheavam peixes a noite e também caçavam com os mais idosos. Na Cascata, logo na entrada, onde até hoje tem um pé de jenipapo, havia um moinho de milho e uma pila de café, feita pelos meu avô Basílio e seus filhos mais velhos. Depois da escola, passávamos quase o dia inteiro próximo do moinho, principalmente na época de calor, devido abundância da água. Quando saíamos para fachear com os irmãos, todos crianças, sempre era recomendado pela vovó Luige Masson para tomarmos cuidado com cobras, principalmente a preguiçosa e o surucucu fogo, esta que assoviava, cantava, e gostava de se aproximar da luz que levávamos na mãos para clarear a imensa escuridão da floresta e assim pescar. Pegávamos peixes de baldes, porque os rios não eram explorados. Lagostas, comíamos sempre. Brincávamos com as criações que papai mantinha na fazenda. Eram cabritos, porcos, galinhas, vacas, cavalos, cabras e patos, estes que se criavam no poço do  então enorme rio Sapateiro, que ficava em frente a casa sede, sob um grande pé de vinhático e cortado por uma pinguela, próximo do caminho por onde passavam as tropas e transeuntes para outras localidades, por uma picada que havia no interior da mata existente bem próximo da casa e se estendia por todo o caminho, até a estrada de ferro, no hoje bairro São Cristóvão. Para viajar a lugares mais distante, era sempre a pé, ou então, em lombo de animais, por que carro não existia, e até mesmo bicicleta era muito raro de se ver.      

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