sábado, 26 de maio de 2012

ENTREVISTA: JOSÉ RAMOS MENEZES


Como estamos desenvolvendo um projeto para preservar a memória e acontecimentos antigos de Ibiraçu, neste domingo o nosso entrevistado é o senhor José Ramos Menezes, o “Zé Ramos”, nascido em Ibiraçu, 77 anos, servidor público municipal aposentado, residente há cinco anos na Casa de Repouso “Semente de Jesus” em Cachoeirão, município de Fundão[onde também estão os ibiraçuenses Noé Vieira da Encarnação e Aristóteles Ferreira, o “Neguinho”],  que nos relata fatos para contribuir com a história de Ibiraçu.

                             José Ramos na Casa de Repouso

Ibira Sul:  Sua família é de Ibiraçu?

Senhor José Ramos: Meu pai José Corcino veio de Minas Gerais para Pau Gigante, onde se casou com Maria Santana e passou a trabalhar como carreiro e tropeiro para o senhor Angelinho Bonesi. Ele tinha como sobrenome Menezes. O Ramos que tenho no nome, foi uma sugestão do então tabelião Juca Motta, que tinha o cartório  na avenida Cond´Eu, casarão que pertenceu ao senhor Lima, por ter nascido no dia de Ramos. Eu morava na Biquinha, onde nasci, numa casa de madeira que pertencia a família de Constantino Furieri, ladeada de um paiol que guardava arreios de animais, pois ele tinha tropa. Éramos vizinhos dos senhores Olímpio e de Getúlio Ribeiro, que moravam do outro lado do rio da Biquinha, propriedade pertencente a  Alair Bonesi. Mais embaixo, onde você mora[Ruberval], havia uma casinha de estuque e coberta de palha muito antiga, onde morava  o senhor “José Birau”, pai de  “Luiz Birau”, o “caranguejo”.  Mais no alto, próximo do morro do Vitor, havia algumas casas de estuque, também cobertas de palhas, onde moravam algumas pessoas que não se recorda o nome, contudo, afirma que se tratava as famílias citadas todas negras, como é a minha própria,  porém, não tenho recordações de  ter aquele lugar se chamado “Burgo Escuro”, o  que deve ter ocorrido muito antes.

Ibira Sul:  E a vida na infância, como era?

Senhor José Ramos:  Ainda quando menino, meu pai decidiu ir morar aonde hoje é o  bairro Boa Vista. Quando nos transferimos para lá,  somente havia  três ou quatro casas, todas de pessoas  oriundas do Nordeste, como eram a família do senhor Joaquim Gomes, um açougueiro que  tinha um comércio no antigo prédio da  família Boff na Conde´Eu, onde depois foi o Banco do Brasil, a família Ferreira, que era nordestina mas morou no alto do Morro do Aricanga, e dos irmãos Zeco e Balbino Jerônimo, oriundos de Quixadá.  Lá ainda não existia a igrejinha, que foi construída por dona Marieta Moro, que foi casada com Vicente Severino, também Nordestino. O cemitério era cercado de estacas e com alguns arames farpados.  Não havia água no bairro Boa Vista, e os moradores pegavam água no rio Taquaraçu,  num poço próximo do antigo abatedouro da avenida Getúlio Vargas. Para chegar ao rio, passava-se pelo casarão da família Boff, que ficava no meio de uma pastagem de  pernambuco,  além de ter que passar por outras duas ou três casas  mais abaixo, todas de estuques, uma delas, onde morou depois o senhor João Porfírio.

Ibira Sul: E a  igreja católica, era influente?

Senhor José Ramos:  Existia um acirramento muito grande na política de Ibiraçu, muito maior do que hoje. Disputavam o poder doutor Barroso, que foi prefeito, que abriu estradas até Colatina, contra a família Bonesi, que também teve prefeito. Porém, a palavra final na política praticamente quem dava eram os padres, dois irmãos, Luis e José não se recordando o  sobrenome, que tinham uma irmã que veio  da Europa com eles e se chamava Anita. Os padres realizavam a festa de Nossa Senhora da Saúde no seminário, o que atraia muita gente.  

Ibira Sul:  E o nosso futebol?

Senhor José Ramos:  Joguei no América. Havia também o Vitória, que tinha  o campo em São Cristóvão, atrás do posto Padre Eustáquio. Os dois times jogaram uma única vez, porém, como deu uma grande briga, a  partida não  acabou. Depois disso, eu propus ao padre José Simionato a união dos dois times, o que ocorreu em 1959, sendo Jorge Pignaton[meu pai],  o primeiro presidente. No América Jogavam Preto, Lourival Grampão, Chico Simoa, caboclo Adolfo, todos muito  brigões.     

Ibira Sul:  Viajavam pelas cercanias de  Ibiraçu?

Senhor José Ramos:  Muito. Era Mariano, caçava muito e pescava. Íamos com frequência a Pendanga, que para chegar, somente a pé ou a cavalo, passava-se pelo Morro do Vitor até a fazenda do Da Ross, onde havia um campo  de futebol, onde joguei muitas vezes. Depois passávamos pela olaria dos De Barbi e pelo britador da  família Gorza e aí chegávamos em Pendanga, que era um grande centro de comércio  de café.  

                           Casa de Repouso Semente de Jesus

Ibira Sul:  E o centro da cidade de Ibiraçu?

Senhor José Ramos:  O Fórum da cidade funcionava no segundo andar da prefeitura municipal e as construções do centro eram os casarios cobertos de zinco. Seu Pascoal Campagnaro tinha uma venda grande,  aonde foi depois a padaria de Modesto Campagnaro, sendo a segunda padaria da cidade montada por Pedro Pignaton, que  ficava uma do lado da outra na subida do morro para o então único bairro, hoje o Boa Vista. Carlos Pagiola também teve depois uma padaria, que funcionava aonde hoje mora Loloi  sua filha.  Porém, na enchente de 1942, a  cozinha do prédio de Carlos Pagiola, marido da professora Ericina Macedo caiu. A enchente foi tão violenta que do Boa Vista via-se a baixada toda alagada. Uma coisa assustadora. Na cidade havia ainda um advogado, que era o Dirceu Mota, e uma farmácia, também só existia uma, que funcionava no prédio em frente ao Banestes. Todos da cidade pegavam água na Biquinha para beber e iam em carriola.  Um fato marcante foi o acidente em frente a estação do Aricanga, que matou nove operários que faziam a estrada. Me lembro do enterro dos operários, quando passaram nove caixões seguidos pela rua, todos moradores de outras localidades, mas que foram enterrados no cemitério de Ibiraçu, como pode ser observado várias covas, uma do lado da outra.   


OBS: Antecipei a Entrevista, por que tenho que trabalhar a noite em Colatina e amanhã cedo descansar.  

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