sábado, 19 de maio de 2012

ENTREVISTA - ÂNGELO PISSINATTI

Dando continuidade ao nosso projeto de preservação da memória e enriquecimento da história de Ibiraçu, neste domingo o nosso entrevistado é o senhor Ângelo Pissinatti, 98 anos, nascido em Taquaraçu, antigo município de Pau Gigante, hoje Ibiraçu-ES, filho de Giovani Pissinatti e de Catarina Pignaton, que nos relata vários fatos ocorridos em nosso município, desde a época de sua infância.

               Seu Angelinho Pissinatti, ibiraçuense de 98 anos

Ibira Sul:  O senhor nasceu  em Taquaraçu e frequentava a então cidade de Pau Gigante?

Senhor Ângelo Pissinatti:  Meu pai foi para Taquaraçu, onde nasci, para desbravar e colonizar aquela região, juntamente com várias outras famílias, como Cuzzuol, Modenesi, Pignaton e Segatto, que derrubavam matas para fazer lavouras de café e criar gado. Tínhamos poucas oportunidades. Estudei alguns anos numa escolinha que titio Francisco Pignaton mantinha ao lado de sua casa, que ficava no morro em frente da antiga balança de pesar animais, na fazenda da família Modenesi, anexo a hoje represa de captação de água do SAEE, não sabendo informar se era pública, ou era o tio que mantinha a escola funcionando com os próprios recursos. As professoras da época eram duas irmãs, uma chamada Anicéia, praticamente negras, filhas do comerciante Nilo Santos, um cearense que tinha uma venda em frente a igreja de São Sebastião, em Parque Alegre, Ibiraçu, próximo de uma casa onde morou posteriormente Herculano Cândido e sua esposa dona “Zéfa” do Rosário. A venda era em um lugar estratégico, pois, era no cruzamento das estradas por onde passava todas as pessoas, que a pé, à cavalo, ou com tropas, seguiam para o interior de Pau Gigante e outras regiões. No local da venda, a estrada única que seguia a partir de Córrego do Sapateiro, dividia-se em duas. Uma que seguia pela colônia da família Curto e de Antônio Pignaton, e de lá para Mundo Novo e João Neiva, e a outra que seguia para Quixadá, Pendanga, Três Barras e Terra Fria. Em Quixadá, muitas décadas depois, Pedro Pignaton possuiu uma venda.  Quando vínhamos para Pau Gigante, descíamos por Córrego do Sapateiro, numa picada no interior da mata e caminhavam até alcançar a linha de trem, na venda de Ernesto Maioli.  

Ibira Sul: O senhor se lembra de muita coisa do centro de Pau Gigante?

Senhor Ângelo Pissinatti:  Não de muitas, porque as pessoas de Taquaraçu usavam muito o comércio de Corubixá,  que depois passou a se chamar Demétrio Ribeiro, como é até hoje. Frequentávamos também Barra do Triunfo. Tanto esta localidade, como Corubixá, eram bons centros de comércios, praticamente comparados a Pau Gigante. Desta, recordo-me muito bem da serraria pica-pau do senhor Joaninho Modenesi que serrava dormentes para a estrada de ferro, e ficava em frente ao hoje bar do Darcio Grippa, antigo bar de Natalino Rosalém, mas que foi desmontada e transferida para Sauaçu, hoje Aracruz. Além da serraria, lembro-me da antiga prefeitura, que ficava aonde é hoje a Pimacol, na avenida Cond´Eu, que era um prédio de três pavilhões e funcionava como se fosse um depósito público para armazenar várias coisas que chegavam na estação de trem. A outra serraria que existia, mas, muito tempo depois, era a da fazenda Zanotti. Vinha toda a semana na missa na matriz de São Marcos em Pau Gigante, a qual ajudamos com várias quartas de café para manutenção, que conheci desde criança como é hoje, inclusive sem a torre frontal.

Ibira Sul:  O senhor serviu o Exército?

Senhor Ângelo Pissinatti:  Sim!  Em 1935, em companhia de outros jovens de Pau Gigante, fomos para o Rio de Janeiro, para servir o Exército na 1ª  Formação Sanitária Regional da base de Deodoro como padioleiro(carregador de macas). Embarcamos na estação Lauro Miller, que ficava na rua João Alves da Motta, praticamente no portão do hoje depósito de madeira do senhor Carlito Batisti. De Pau Gigante, levamos um dia até chegar a Cachoeiro de Itapemirim. De lá, também de trem, fomos até a Central do Brasil, no Rio de Janeiro e seguimos para a base. Recordo-me que embarquei no trem em Pau Gigante trajando terno e calça branca e de chapéu, tendo este voado poucos minutos depois do início da viagem. Quando cheguei ao Rio de Janeiro, meu terno estava todo perfurado pelas brasas e faíscas que saiam da chaminé da caldeira do trem que chamávamos de maria-fumaça. Lembro-me que o Estado do Rio de Janeiro era violento, como se ouve falar, porém um pouco menos do que é hoje.    

Ibira Sul:  E no retorno do Rio de Janeiro?

Senhor Ângelo Pissinatti:  Quando retornei do Exército, depois de quatorze meses, casei aos 28 anos, e passei a trabalhar de escuro a escuro. Formei lavouras de café em Taquaraçu, que era mata pura, mas já habitada em algum lugar, como era a localidade de Quixadá, de onde  tenho recordações desde que tinha seis ou sete anos. As cercanias da localidade de Quixadá pertenciam a família Modenesi, que criava gado e  cultivava lavouras de café. Morava naquela localidade uma senhora muito festeira que se chamava Maria Pessoa. Ela fazia forrós em sua casa, que era frequentada pelos nordestinos que formavam aquele povoado. Sempre dava confusão quando  tinha forrós, por que os cearenses eram muito falastrões e bebiam excessivamente. Logo mais abaixo, na margem do Córrego Sapateiro, moravam várias famílias italianas, sendo Barbarioli, Bortolini e Sagrillo, este, um pouco mais distante do rio. Em Quixadá moravam os Ramos, Gomes, Santiago, Felipe, etc. Naquela região era comum a chegada de comunidades ciganas, que acampavam em Taquaraçu, ou nas imediações da igreja de Quixadá, que tinha como padroeiro Santo Antônio, templo, hoje extinto, edificado próximo a casa de Angelina Pignaton, que foi casada com um senhor da família Segatto, de quem ficou viúva, para depois casar-se com Toninho Ramos. Os nordestinos de Quixadá eram hábeis no manuseio de couro para arreios e demais utilidades das tropas de animais. 

             Jaqueiras que restaram, no lugar que morava 
             Francisco Pignaton e que mantinha uma escola 
             na localidade de Taquaraçu, Ibiraçu

Ibira Sul:  Do que mais o senhor se recorda desta nossa região?

Senhor Ângelo Pissinatti: Em Corubixá, hoje Demétrio Ribeiro, existia a família Baroni, que era conhecida como se fosse banqueiros, pois, quando se precisava fazer negócios e dependesse de dinheiro, era à família Baroni  a quem se recorria, por que ela era muito abastada financeiramente. Já aqui em Pau Gigante, o banqueiro era Ernesto Maioli. Também lembro que o primeiro carro da região foi adquirido por Valtinho Cometti de João Neiva, e depois, Artelino Modenesi, ambos tinha caminhões Chevrolet, enquanto Fortunato Redivo possuiu o primeiro ônibus, uma jardineira, com a qual todos os dias ia à Vitória, passando pela localidade de Grapuama, Santa  Rosa, Biriricas e Nova Almeida, este um lugar muito antigo. A viagem contornava o canal marítimo de Santa Cruz.

Ibira Sul: E as terras, eram tomadas por florestas?

Senhor Ângelo Pissinatti:  Sim. Tinha árvores de tamanho medonhos, principalmente o jequitibás rosa, parajus, farinha seca, vinháticos, cedros e o corubixá. As árvores mais grossas eram encontradas em Acioli e na localidade de Palmeiras.

Ibira Sul:  Do que mais o senhor se recorda e que acha importante?

Senhor Ângelo Pissinatti:  O Santuário de Nossa Senhora da Saúde teve uma grande transformação, pois, conheci desde que a capelinha era de madeira. A igreja de Taquaraçu, que era zelada por Marcos Delpupo, mas que se acabou. Lembro-me, também, de um acidente que soterrou alguns trabalhadores que faziam a linha de ferro nova, a que existe hoje, mas não sei quantas pessoas morreram. Tudo me trás muitas lembranças bonitas.  


2 comentários:

Higor Pissinati disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Higor Pissinati disse...
Este comentário foi removido pelo autor.