Dando
continuidade ao nosso projeto de preservação da memória e enriquecimento da
história de Ibiraçu, neste domingo o nosso entrevistado é o senhor Ângelo
Pissinatti, 98 anos, nascido em Taquaraçu, antigo município de Pau Gigante, hoje Ibiraçu-ES, filho
de Giovani Pissinatti e de Catarina Pignaton, que nos relata vários fatos
ocorridos em nosso município, desde a época de sua infância.
Seu Angelinho Pissinatti, ibiraçuense de 98 anos
Ibira Sul:
O senhor nasceu em Taquaraçu e frequentava a então cidade de Pau
Gigante?
Senhor Ângelo Pissinatti: Meu pai foi para Taquaraçu, onde nasci, para
desbravar e colonizar aquela região, juntamente com várias outras famílias,
como Cuzzuol, Modenesi, Pignaton e Segatto, que derrubavam matas para fazer lavouras de café e criar gado. Tínhamos
poucas oportunidades. Estudei alguns anos numa escolinha que titio Francisco
Pignaton mantinha ao lado de sua casa, que ficava no morro em frente da antiga
balança de pesar animais, na fazenda da família Modenesi, anexo a hoje represa
de captação de água do SAEE, não sabendo informar se era pública, ou era o tio que mantinha a escola funcionando com os próprios recursos. As professoras da época eram duas irmãs, uma
chamada Anicéia, praticamente negras, filhas do comerciante Nilo Santos, um
cearense que tinha uma venda em frente a
igreja de São Sebastião, em Parque Alegre, Ibiraçu, próximo de uma casa onde
morou posteriormente Herculano Cândido e sua esposa dona “Zéfa” do Rosário. A
venda era em um lugar estratégico, pois, era no cruzamento das estradas por
onde passava todas as pessoas, que a pé, à cavalo, ou com tropas, seguiam para o
interior de Pau Gigante e outras regiões. No local da venda, a estrada única que seguia a
partir de Córrego do Sapateiro, dividia-se em duas. Uma que seguia pela colônia
da família Curto e de Antônio Pignaton, e
de lá para Mundo Novo e João Neiva, e a outra que seguia para Quixadá, Pendanga,
Três Barras e Terra Fria. Em Quixadá, muitas décadas depois, Pedro Pignaton possuiu
uma venda. Quando vínhamos para Pau
Gigante, descíamos por Córrego do Sapateiro, numa picada no interior da mata e caminhavam até alcançar a linha de trem, na venda de Ernesto Maioli.
Ibira Sul: O senhor se lembra de muita coisa do
centro de Pau Gigante?
Senhor Ângelo Pissinatti:
Não de muitas, porque as pessoas de Taquaraçu usavam muito o comércio de Corubixá, que depois passou a se chamar Demétrio
Ribeiro, como é até hoje. Frequentávamos também Barra do Triunfo. Tanto esta
localidade, como Corubixá, eram bons centros de comércios, praticamente
comparados a Pau Gigante. Desta, recordo-me muito bem da serraria pica-pau do
senhor Joaninho Modenesi que serrava dormentes para a estrada de ferro, e ficava em frente ao hoje bar do Darcio Grippa,
antigo bar de Natalino Rosalém, mas que foi desmontada e transferida para
Sauaçu, hoje Aracruz. Além da serraria, lembro-me da antiga prefeitura, que
ficava aonde é hoje a Pimacol, na avenida Cond´Eu, que era um prédio de três
pavilhões e funcionava como se fosse um depósito público para armazenar
várias coisas que chegavam na estação de trem. A outra serraria que existia,
mas, muito tempo depois, era a da fazenda Zanotti. Vinha toda a semana na missa na matriz de São Marcos em Pau Gigante, a qual ajudamos com várias quartas de café para manutenção, que conheci desde criança como é hoje, inclusive sem a torre frontal.
Ibira Sul:
O senhor serviu o Exército?
Senhor Ângelo Pissinatti: Sim! Em
1935, em companhia de outros jovens de Pau Gigante, fomos para o Rio de
Janeiro, para servir o Exército na 1ª
Formação Sanitária Regional da base de Deodoro como padioleiro(carregador
de macas). Embarcamos na estação Lauro Miller, que ficava na rua João Alves da
Motta, praticamente no portão do hoje depósito de madeira do senhor Carlito
Batisti. De Pau Gigante, levamos um dia até chegar a Cachoeiro de Itapemirim.
De lá, também de trem, fomos até a Central do Brasil, no Rio de Janeiro e seguimos para a base. Recordo-me que
embarquei no trem em Pau Gigante trajando terno e calça branca e de chapéu,
tendo este voado poucos minutos depois do início da viagem. Quando cheguei ao Rio de Janeiro, meu terno estava
todo perfurado pelas brasas e faíscas que saiam da chaminé da caldeira do trem que
chamávamos de maria-fumaça. Lembro-me que o Estado do Rio de Janeiro era
violento, como se ouve falar, porém um pouco menos do que é hoje.
Ibira Sul:
E no retorno do Rio de Janeiro?
Senhor Ângelo Pissinatti:
Quando retornei do Exército, depois de quatorze meses, casei aos 28
anos, e passei a trabalhar de escuro a escuro. Formei lavouras de café em
Taquaraçu, que era mata pura, mas já habitada em algum lugar, como era a
localidade de Quixadá, de onde tenho recordações
desde que tinha seis ou sete anos. As cercanias da localidade de Quixadá
pertenciam a família Modenesi, que criava gado e cultivava lavouras de café. Morava naquela
localidade uma senhora muito festeira que se chamava Maria Pessoa. Ela fazia
forrós em sua casa, que era frequentada pelos nordestinos que formavam aquele
povoado. Sempre dava confusão quando
tinha forrós, por que os cearenses
eram muito falastrões e bebiam excessivamente. Logo mais abaixo, na margem do Córrego Sapateiro,
moravam várias famílias italianas, sendo Barbarioli, Bortolini e Sagrillo, este, um pouco
mais distante do rio. Em Quixadá moravam os Ramos, Gomes, Santiago, Felipe, etc. Naquela
região era comum a chegada de comunidades ciganas, que acampavam em Taquaraçu, ou nas imediações da igreja de Quixadá,
que tinha como padroeiro Santo
Antônio, templo, hoje extinto, edificado próximo a casa de
Angelina Pignaton, que foi casada com um senhor da família Segatto, de quem
ficou viúva, para depois casar-se com Toninho Ramos. Os nordestinos de Quixadá eram hábeis no manuseio de couro para arreios e demais utilidades das tropas de animais.
Jaqueiras que restaram, no lugar que morava
Francisco Pignaton e que mantinha uma escola
na localidade de Taquaraçu, Ibiraçu
Ibira Sul:
Do que mais o senhor se recorda desta nossa região?
Senhor Ângelo Pissinatti: Em Corubixá, hoje Demétrio Ribeiro,
existia a família Baroni, que era conhecida como se fosse banqueiros, pois,
quando se precisava fazer negócios e dependesse de dinheiro, era à família
Baroni a quem se recorria, por que ela
era muito abastada financeiramente. Já
aqui em Pau Gigante, o banqueiro era Ernesto Maioli. Também lembro que o
primeiro carro da região foi adquirido
por Valtinho Cometti de João Neiva, e depois, Artelino Modenesi, ambos tinha
caminhões Chevrolet, enquanto Fortunato Redivo possuiu o primeiro ônibus, uma
jardineira, com a qual todos os dias ia à Vitória, passando pela localidade de
Grapuama, Santa Rosa, Biriricas e Nova
Almeida, este um lugar muito antigo. A viagem contornava o canal marítimo de
Santa Cruz.
Ibira Sul: E as terras, eram tomadas por
florestas?
Senhor Ângelo Pissinatti: Sim. Tinha árvores de tamanho medonhos, principalmente o
jequitibás rosa, parajus, farinha seca,
vinháticos, cedros e o corubixá. As árvores mais grossas eram encontradas em
Acioli e na localidade de Palmeiras.
Ibira Sul:
Do que mais o senhor se recorda e que acha importante?
Senhor Ângelo Pissinatti: O Santuário de Nossa Senhora da Saúde teve uma
grande transformação, pois, conheci desde que a capelinha era de madeira. A igreja
de Taquaraçu, que era zelada por Marcos Delpupo, mas que se acabou. Lembro-me,
também, de um acidente que soterrou alguns trabalhadores que faziam a linha de
ferro nova, a que existe hoje, mas não sei quantas pessoas morreram. Tudo me trás muitas lembranças bonitas.
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