domingo, 10 de junho de 2012

ENTREVISTA: RAFAEL RODRIGUES NICOLATO


Neste domingo chuvoso de outono, para enriquecer nossa coluna Entrevista, convidamos o senhor Rafael Rodrigues Nicolato, brasileiro, 72 anos, aposentado, que nos dá uma noção básica de como foi, e o motivo que impulsionou o crescimento demográfico e a consequente formação social moderna da cidade de Ibiraçu.

             Seu Rafael -  Não sou daqui, mas Ibiraçu me acolheu

Ibira Sul:  O senhor chegou a Ibiraçu em que época senhor Rafael?

Senhor Rafael:  Nasci em Novo Brasil, Norte de Colatina, filho de uma descendente de italiano com negro. Meu pai abandonou o lar, deixando vários filhos infantes para minha mãe criar sozinha. Sem ter o que fazer naquela região, minha mãe se transferiu para Colatina onde me tornei adulto. De lá, vim aleatoriamente para Ibiraçu, onde comecei a trabalhar como lavador de carro no posto de gasolina Padre Eustáquio no bairro São Cristóvão, propriedade do senhor “Maninho”, profissão que exerci até me aposentar.  ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­

Ibira Sul:  Mas  por que a  opção por morar em Ibiraçu?

Senhor Rafael:  Na verdade, quando cheguei em Ibiraçu em 1965, estava se iniciando a construção de vários trechos da BR 101, a qual foi asfaltada poucos anos após. Como éramos de Colatina, onde a estrada, também, havia chegado alguns anos antes, decidi pegar o trecho e descer para está região sem muito destino e tentar a  vida. Com aquilo, acabei me fixando no posto, onde morei com a família num barraquinho de madeira que havia nos fundos,  absolutamente precário.

Ibira Sul:  E a interação com a população ibiraçuense, que até então era praticamente uma sociedade única, tradicional, e relativamente conservadora?

Senhor Rafael:  Na verdade os primeiros contatos com a sociedade tradicional, foi através do   trabalho e com minha participação na igreja Pentecoste, que na época funcionava numa casinha que ficava praticamente no portão do cemitério e tinha como pastor o senhor Pimentel, que vinha de João Neiva. Várias outras pessoas tradicionais da cidade, apesar de simples, também participavam. Na igreja, passei a interagir com aquelas pessoas, e assim fomos solidificando nossa permanência na cidade.  Com o tempo, adquiri um lote no morro atrás do bairro São Cristóvão, quando começou a urbanização do local, onde proprietários de serrarias, que começavam a surgir em grande quantidade em Ibiraçu, compravam lotes do senhor Jorge Pignaton(meu pai)  e construíam ruas com várias casas de madeira para os seus empregados. A convivência com aqueles trabalhadores também contribuiu muito para me socializar na cidade, pois, praticamente todos os moradores eram como eu, ou seja, oriundos de outras localidades e Estados e tinham as mesmas barreiras para enfrentarem ao conviver com os moradores tradicionais da cidade, obstáculos que não demoraram serem vencidos.

Ibira Sul:  Mas hoje o senhor mora no bairro Aricanga?

Senhor Rafael:  Sim! Do bairro São Cristóvão, comprei uma área maior no bairro Aricanga onde passei a morar e criei meus três filhos, que me deram nove netos, alguns já adultos e moradores de Ibiraçu. Nesta cidade, consegui superar as dificuldades que tive na vida, depois de ter passado fome quando morava em Colatina, onde nada conseguia ter, devido o vício que tinha de beber e fumar. 


Tenho muita gratidão pelo povo de Ibiraçu, a terra que me acolheu e me deu oportunidades para ser alguém que pudesse criar a família com dignidade como fiz. Também sou grato a igreja evangélica que participo(Assembléia de Deus), onde me eduquei para a vida e aprendi que o que mais precisamos para ser feliz e ter simplicidade e ser humildade. Jamais devemos nos iludir com coisas materiais. Hoje, aposentado e com a família criada, levo uma vida feliz. Venho a Biquinha duas vezes por semana pegar água  para toda minha família, além de encontrar com os amigos que fiz durante esse tempo em Ibiraçu, principalmente as pessoas com quem convivia quando morava no bairro São Cristóvão, e também, os moradores do próprio bairro Aricanga, pessoas que inicialmente tiveram praticamente as mesmas dificuldades que  tivemos, pois, vivíamos para o trabalho e morávamos isolados nos dois bairro citados que até há algumas décadas não tinha nenhuma estrutura, mas que hoje são bairros muito importantes para a cidade de Ibiraçu. O começo da vivência aqui foi com muitas dificuldades para interagir com os moradores tradicionais, mas com o tempo,  superamos e hoje somos uma só sociedade e nos respeitamos com harmonia.  

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