sábado, 16 de junho de 2012

ENTREVISTA: MARIA CRISTINA BARBOSA IGNÁCIO

Preservar nossa memória e acontecimentos, e regatar os fatos históricos que remontam a chegada da imigração italiana em Ibiraçu. Esse é o nosso projeto, o qual prosseguimos para enriquecê-lo, com uma entrevista à senhora Maria Cristina Barbosa, hoje moradora do bairro Aricanga, que no próximo dia 10 de julho fará 101 anos[pessoa mais idosa de toda região], todos vividos em solo ibiraçuense. Dona Maria Barbosa, como é chamada, mesmo enfrentando sérios problemas de audição, com a ajuda do filho de 58 anos e sua esposa, relatou alguns fatos que praticamente confirmam a tese que defendemos, de que já havia uma civilização de povos tupiniquins, mestiços e negros vivendo nesta região antes dos imigrantes italianos chegarem 1877 para iniciar o desenvolvimento e progresso de Ibiraçu.   

                   Dona Maria Barbosa fará 101 no próximo mês

Ibira Sul: A senhora nasceu no Morro do Aricanga?

Senhora Maria Barbosa: Sim!  Meu pai, que nasceu em Rio da Prata, passou a morar no lugar denominado “Caldeirão”, que fica no Morro do Aricanga, aonde nasci e me criei, juntamente com outros vários irmãos. Em “Caldeirão”, ao Leste da montanha, quase no dorso, há um olho d´água, onde habitavam várias famílias de povos da raça indígena em seu entorno. Nosso povo é oriundo da região de Mata Limpa e Gimuhuna, planície atlântica do município de Aracruz. Quando eu era criança, meu pai e outros moradores de Aricanga já transitava pelas montanhas da região de Rio da Prata, Ibiraçu, onde ele havia nascido, que também já era habitada naquela época por povos  indígenas. Iam a pé e traziam nas costas farinha ou taquaras para fazer peneiras, único ofício, além da produção de farinha e beiju que havia e que eram negociados com outros mantimentos no mercado do hoje município de Aracruz, não sabendo se era em Sauaçu, Santa Rosa de  Lima, ou Santa Cruz.  

Ibira Sul:  E como era a vida?

Senhora Maria Barbosa: Fui casada com Francisco Ignácio, homem mestiço dessa região, com quem tive nove filhos, e os criamos no meio da mata, dentro de uma casinha de madeira e palha, quando tudo por aqui ainda era tomado por florestas virgens. A luz na cidade de Ibiraçu somente foi vista do alto do Morro do Aricanga, quando eu já era muita adulta. Vivíamos para a pesca no rio Preto, onde na década setenta perdi duas netas afogadas de uma só vez quando pescavam. Lucia de 12 e Balbina de 13 anos.  Só se conseguia comprar alguma coisa para casa quando vendia-se peneiras ou farinha. No Morro do Aricanga, depois que já era adulta, vivia umas trinta famílias, todos praticamente descendentes indígenas, e também algumas nordestinas, mas muito tempo depois. Lembro-me das famílias dos Matos, Ignácio, Adão, estes do outro lado da montanha, Nascimento e a minha Barbosa, que eram muitas espalhadas pelas matas do Aricanga. 

                             Veterano da  Revolução de  1930
                             marido de dona  Maria Barbosa,
                             fato difícil de entender, pois, era praticamente
                             uma pessoa nativa da floresta  do Aricanga

Meu marido foi convocado para a revolução de 1930(provavelmente), devido um mínimo conhecimento que adquiriu frequentando os poucos centros de comércios no município de Aracruz e Pau Gigante(provavelmente).

                              Uma das filhas, já falecida, da prole
                              de nove filhos de dona Maria Barbosa,
                              de características totalmente indígenas

Ibira Sul:  E quando o homem branco chegou na região do Morro do Aricanga?

Senhora Maria Barbosa: Muitos frequentavam a igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, hoje  em ruínas, onde eram realizadas festas  religiosas e ia até o padre, ou então, caçando, pois dava muita caça, desde pacas, jaguatiricas, macacos, além de muitas cobras. Mas na verdade, quando as pessoas da cidade começaram a frequentar mais assiduamente o Morro do Aricanga, foi a partir da instalação da torre de transmissão de TV, sendo  a primeira há quase meio século. Depois que construíram a torre, fizeram também um cômodo e colocaram uma televisão. A noite, muitos moradores da região, inclusive de Santa Maria, iam conhecer aquela novidade. Quem tomava conta era uma pessoa da família Matos. Para chegar ao alto do Aricanga, os objetos usados na construção e montagem da cabine e da torre foram quase todos transportados nas costas dos nativos do Morro do Aricanga. Foi uma luta sem fim. O transporte começava na  propriedade de Elísio Rosalém e acabava no cume do Morro do Aricanga.  

                          Transporte de material para a  torre 
                          do alto do Morro do Aricanga

Ibira Sul: E o que explica essa saúde para conseguir chegar aos 101 anos?

Senhora Maria Barbosa:
 Até poucos anos fumava cachimbo e bebia, e isso nunca me prejudicou. Mas o sucesso dessa vida longa deve ter sido por que vivi quase a vida inteira no meio das florestas virgens, bebendo  água pura, o que me deixava feliz e despreocupada do mundo difícil que hoje vivemos, pois, não faz  muitas décadas que estou na cidade.   


OBS: Antecipei a Entrevista, que seria amanhã,  por ter que trabalhar essa noite em Colatina e amanhã ter qur descansar. 

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