Enriquecer o
conhecimento, também sobre a flora de Ibiraçu e de outras regiões do Estado e
do Brasil no contexto de plantas ornamentais. Este é o objetivo da nossa
Entrevista deste domingo, o que entendemos ser uma espécie de cultura, mas ainda
pouco divulgada e conhecida pelos cidadãos de nossa cidade.
Para falar e informar sobre este assunto, convidamos para a Coluna Entrevista de hoje o senhor Domingos Sfalsin, ibiraçuense de Itapiramirim, aposentado, 79 anos, com quase meio século colecionando e cultivando orquídeas no “Orquidário Sfalsin”, no próprio quintal da casa, sediado no bairro São Cristóvão, Ibiraçu, prática que mais se aproxima de um divertimento do que um comércio propriamente dito. Seu Domingos nos relata como passou a ser um orquidófilo, atividade que surgiu em sua vida praticamente do nada.
Seu Domingos, diante das flores de espécies de
orquídeas que cultiva em sua casa
Ibira Sul: Seu Domingos, como foi que surgiu a
ideia de cultivar e colecionar orquídeas?
Senhor Domingos
Sfalsin: Quando estava com 31 anos, já casado, decidi sair de Itapiramirim para morar em Pendanga,
onde fiquei dois anos, para depois me transferir para Ibiraçu. Aqui passei a
ser sócio da família Fioroti numa serraria. Minha função praticamente era
extrair madeiras nas florestas e abastecer
a serraria. Muitas árvores que cortávamos tinham orquídeas em sua copa e caule,
muitas vezes floridas. Aquilo me chamou a atenção e comecei a trazer algumas touceiras
para casa e tratá-las. Minha esposa também pegou carinho pelas plantas, e então,
juntos, começamos a cuidá-las.
Ibira Sul: Como foi o processo do cultivo e coleção de orquídeas?
Senhor Domingos
Sfalsin: No começo fazíamos as coisas
sem muita técnica. Com o tempo, fui me interando do assunto, fiz amizade
com outros orquidófilos e fomos
aumentando o número de espécies. Depois decidi não somente aproveitar as espécies que
existiam nas árvores nativas que derrubávamos para abastecer a serraria, mas também
a catar pelas florestas da região, onde existam aos montes, porque não era uma atividade
muito explorada naquela época. Fiz
amizades boas com vários colecionadores, tanto de Mato Grosso, de Tocantins e
da Bahia, como pessoas do próprio Espírito Santo, inclusive com o saudoso senhor Roberto Kautsky, de Domingos
Martins, um dos mais conceituados orquidófilos do País. Ele cultivava as orquídeas
ao longo de uma estrada no interior de
uma floresta naquele município, a qual havia sido feita por ele próprio de enxadão.
As espécies que ele colecionava não eram muitas, mas tinha valores consideráveis por serem raras.
Ibira Sul: Quais as montanhas ou matas de Ibiraçu que se
encontra orquídeas com mais facilidades?
Senhor Domingos
Sfalsin: Praticamente em todos as matas das montanhas
desta nossa região é comum encontrar-se orquídeas. Em todas as montanhas tem
orquídeas diferentes. No Morro do Encantado[tratado também por Morro do Vitor, que
na realidade, no início, chamava-se Morro do Firmino], é um lugar que tem
muitas espécies. Em sua coleta nas matas, é comum nos depararmos com cobras nas
imediações das touceiras e nas suas raízes. No Morro do Aricanga já encontramos
muitas orquídeas. É a localidade mais comum de se encontrar cobras. No Espírito
Santo, em Pontal de Ipiranga é o lugar com grande concentração de espécies,
mesmo tendo o fogo nas matas destruído muitas espécies de orquídeas daquela região.
Espécie rara que seu Domingos já cultivou
Ibira Sul: E o comércio das orquídeas, é bom?
Senhor Domingos
Sfalsin: Como sou um colecionador e não um comerciante,
pois, meu cultivo é caseiro, trabalho mais cuidando das matrizes que possuo, e
negocio suas mudas, normalmente para outros colecionadores. Muitas vezes
pessoas que passam na BR 101 e já
conhecem nosso orquidário, nos visitam e compram algumas espécies, que
tem melhor comércio quando estão floradas.
Mas como a coleção de orquídeas é uma ramo de negócio muito
visado pelos órgãos públicos, principalmente o IBAMA, devido a extração ilegal que
algumas pessoas fazem em determinadas regiões protegidas, reservas nativas e tombadas,
por exemplo, acabamos sendo prejudicados. Normalmente extraio as sementes das
plantas, que são como uma poeira, e encaminhamos para um laboratório em Vitória,
onde elas são processadas e devolvidas em mudas. Hoje o método mais prático para
atender a fiscalização é cultivar mudas hibridas. Tudo que adquirimos direto no
comércio é mediante nota fiscal. Também compramos produtos para pulverizar ou enriquecer
suas raízes, e assim protegermos as plantas e torná-las mais bonitas. Sou
associado ao órgão próprio para esta prática, denominado SEO, com sede na
capital.
Ibira Sul: O senhor se recorda de algum fato interessante
que lhe aconteceu como orquidofilo?
Senhor Domingos
Sfalsin: Sim! Certa
ocasião, uma pessoa que não me recordo o nome, trouxe-me uma muda de orquídea do Leste do Morro
do Aricanga, região de Santa Maria de Angola, Ibiraçu. Era uma mudinha muita
precária, que parecia uma porcaria, mas
mesmo assim a recebi de bom grado, diante da bondade da referida pessoa em
trazê-la. Não me importei muito com a muda, mas mesmo assim plantei. Meses depois,
visitou nosso orquidário um dos maiores colecionadores de orquídeas do Estado,
o senhor Saulo Caliman, natural da cidade de Venda Nova do Imigrante e professor
da UFES, que se interessou pela mudinha, pois, ela na verdade era diferente das
outras. Acabei vendendo-lhe a muda por R$ 30,00(trinta reais). Alguns anos
depois soubemos que aquela espécie, natural do Morro do Aricanga, havia ganhado
oito primeiros lugares em exposições de flores de orquídeas em várias regiões do Brasil,
chegando a espécie ser negociada pelo valor de R$ 30. 000,00(trinta mil reais).
Ibira Sul: Qual o valor e a espécie mais famosa de orquídea
que conhece?
Senhor Domingos
Sfalsin: No Espírito Santo, provavelmente é uma espécie
que dá flor branca, raríssima, e foi encontrada nas montanhas do município de Pancas.
Sua flor realmente é uma coisa
extraordinária. Quanto ao preço, já vendi
uma por R$ 1. 000,00(mil reais), e também já comprei uma matriz por R$ 800,00(oitocentos
reais).
Uma das plataformas do orquidário caseiro de
seu Domingos no bairro São Cristóvão, Ibiraçu
Ibira Sul: Em ibiraçu há outros orquidófilos?
Senhor Domingos
Sfalsin: Sim! Muitas pessoas desta cidade e região tem o mesmo amor que eu e minha esposa temos cultivando
espécies de orquídeas. Tratamos estas plantas como crianças. com muito carinho e amor.