Há alguns
anos decidimos iniciar uma pesquisa sobre a história, fatos e acontecimentos de
Ibiraçu ocorridos antes da chegada dos Imigrantes Italianos em 1877, depois que
obtivemos indícios de que uma civilização já habitava essa região onde hoje
está sediada a cidade de Ibiraçu, provavelmente de famílias silvícolas, negros
e de descendentes de portugueses, conforme relatos de dona Maria Cristina
Ignácio Barbosa, 102 anos, moradora
de Aricanga, a qual confirmou que o seu
pai nasceu nesta região.
Senhor Eliseu Campagnaro colaborador deste documentário, em frente ao quadro(reprodução) que retrata a sede da fazenda que inicialmente se chamava "Colina de Burgo Escuro" onde ele nasceu na avenida Cond´Eu, centro de Ibiraçu. No prédio a direita funcionava uma pila de café, mas não se tem notícias do ano de sua construção, o que acreditamos ter sido a primeira erguida no centro desde desde Vila de Cond´Eu com finalidades comerciais no mercado de café, enquanto as duas outras pintadas de azul foram edificadas no ano de 1958.
Primeiramente
nos ativemos aos fatos relatados no livro “Karina” da romancista Virginia
Tamanini, que narra em sua obra a existência de um barracão de madeira na
região onde está edificada a cidade de Ibiraçu, onde armazenava-se mercadorias, provavelmente para abastecer as famílias que aqui já residiam, e depois, também, os
Imigrantes Italianos que aqui chegaram. Segundo o aludido livro, do lado do
referido barracão de madeira havia uma bica d´água canalizada que jorrava dia e
noite dentro de um fosso de alvenaria que servia para aos moradores do lugar, e
também, para saciar a sede dos animais
das inúmeras tropas que de ambos os lados passavam por Ibiraçu, ora oriundas da Vila de Santa Cruz e rumo
à região de Terra Fria de Ibiraçu e de Lombardia, Santa Teresa, ora para Demétrio Ribeiro e Barra do Triunfo, parte destes
fatos contados por Virginia Tamanini em sua obra e de outras informações obtidas junto a moradores antigos de Ibiraçu. Quanto a bica, diante do desnível que há entre a fonte da Biquinha e o lugar que funcionava o
então armazém, não há outra resposta, senão afirmarmos que aquela canalização
era de água extraída por gravidade da nossa Biquinha, um pouco mais acima para
dar queda na água, talvez na cachoeira que há mais acima da fonte, num
patamar mais alto.
Documento expedido por órgão público federal que traz a 1ª
denominação da fazenda que tinha sede na avenida Cond´Eu
e que se chamava "Colina Burgo Escuro"
denominação da fazenda que tinha sede na avenida Cond´Eu
e que se chamava "Colina Burgo Escuro"
Posteriormente
confirmamos que o referido armazém, que funcionava no barracão de madeira, existia aonde hoje residem Tia Mariquinha Pignaton e Natalino Rosalém, na avenida
Cond´Eu, centro de Ibiraçu(relato do saudoso senhor Vitor Rocha Pimentel, profissional
em contabilidade de Ibiraçu, além de comentado por outras pessoas de nossa cidade).
No terreno anexo a casa que tio Natalino Rosalém mora, havia uma construção de tijolos crus, onde funcionava a oficina do ferreiro e armeiro, senhor João Modenesi, pai de Tião Modenesi. Nos fundos daquela velha casa, havia, até algumas décadas - conheci por ter nascido e crescido em frente ao referido lugar na Cond´Eu, quando ela ainda era de poeira e por ter trabalhado na oficina de geladeira do senhor Tião no mesmo lugar -, um fosso de cimento, que perfazia uma espécie de tanque redondo, com um metro de diâmetro aproximadamente, muito parecido com um forno de quitungo para cozinhar farinha. Anexo ao tanque havia um trilho de uns dois metros de altura e com alguns furos no seu interior. O trilho era fincado ao lado do fosso de mais ou menos oitenta centímetros de altura e que deveria servir para fixar a canalização d´água que vinha da Biquinha que ficava atrás do barracão, talvez até canalização de bambu, o que era muito comum à época.
No terreno anexo a casa que tio Natalino Rosalém mora, havia uma construção de tijolos crus, onde funcionava a oficina do ferreiro e armeiro, senhor João Modenesi, pai de Tião Modenesi. Nos fundos daquela velha casa, havia, até algumas décadas - conheci por ter nascido e crescido em frente ao referido lugar na Cond´Eu, quando ela ainda era de poeira e por ter trabalhado na oficina de geladeira do senhor Tião no mesmo lugar -, um fosso de cimento, que perfazia uma espécie de tanque redondo, com um metro de diâmetro aproximadamente, muito parecido com um forno de quitungo para cozinhar farinha. Anexo ao tanque havia um trilho de uns dois metros de altura e com alguns furos no seu interior. O trilho era fincado ao lado do fosso de mais ou menos oitenta centímetros de altura e que deveria servir para fixar a canalização d´água que vinha da Biquinha que ficava atrás do barracão, talvez até canalização de bambu, o que era muito comum à época.
Depois de saber que o barracão de madeira era um armazém de mantimentos, passamos a entender que ele pertencia a família Pimentel(portuguesa), pois,
anexa ao então barracão, ainda hoje há
um outro casarão antigo na mesma avenida Cond´Eu, que pertenceu ao senhor João Motta(português),
onde até recentemente morava o saudoso seu Lima e sua família). Ninguém
sabe informar a data de construção do casarão dos Motas, mesmo sendo ele conhecido de muitas pessoas de Ibiraçu desde crianças e hoje com quase 100 anos, como por exemplo é o caso do senhor Angelinho Pissinatti aqui relatado.
Documento expedido por órgão público federal que traz a 2ª denominação da sede da fazenda na avenida Cond´Eu. Nesta oportunidade, vemos que a propriedade chamava-se "Borgo Escuro", provavelmente depois de adquirida pelo senhor Cesare Guidetti junto ao proprietário anterior, senhor João Batista, um possível português
Avançando com as nossas pesquisas, posteriormente trouxemos
ao conhecimento de todos o livro “Memoriário” do ibiraçuense José Dauster, uma
obra que há alguns anos ganhei de um senhor da família Pedrinha, fato que ocorreu no
cemitério de Ibiraçu num dia de finados, ainda no século passado. O livro relata muitos fatos interessantes da cidade de Ibiraçu quando ainda se chamava Vila de Cond´Eu, depois Vila de Guaraná e Pau Gigante, inclusive algumas construções, como a casa de música que havia onde hoje é o
Centro Cultural Roque Peruchi e do antigo prédio que há em frente a agência do Banestes de Ibiraçu,
onde morou e criou seus filhos o senhor Domício Martins da Silva, um gestor público de então, coronel da Guarda Nacional do
Brasil Império, um provável fidalgo do imperador de todo o núcleo político e administrativo dessa região, com a sede do governo instalada na Vila de Santa Cruz, então um porto movimentado.
Túmulo de Cesar Guidetti, o primeiro a ser sepultado no cemitério de Ibiraçu em 1896,
provável comprador da fazenda "Colina Burgo Escuro". Faleceu poucos anos depois de chegar da Itália em 1877. Portanto, teve menos de vinte anos de Brasil para montar um negócio com a estrutura que observamos na imagem da pila de café na sede da fazenda na avenida Cond´Eu
Encetamos
maiores estudos e análises e tomamos conhecimento que na região que compreende
o vale da Biquinha, que começa na avenida Cond´Eu e se estende até a Cachoeiro Cumprido na Barragem, somados
a Entrevista que fizemos com o senhor
José Ramos, que relatou que assim como ele que nasceu na Biquinha, muitas outras famílias de origem negra
habitavam o lugar, inclusive familiares do senhor Luis Biral, que tinha uma
casa na estrada que dava acesso ao vale do Morro do Vitor, e de lá, para a planície atlântica, única passagem, hoje propriedade de Alécio Rosalém, outrora uma fazenda do senhor Vitor
Rocha Pimentel, adquirida ao casar-se com a viúva
do senhor João Batista, o proprietário anterior da fazenda. A família Batista e Rocha, assim como a família Mota e Loureiro, esta também muito tradicional, praticamente se extinguiram em Ibiraçu, restando hoje poucas famílias.
Mausoléu de Cesare Guidetti, o 1º a ser sepultado no cemitério de Ibiraçu em 1896
Conforme nos conta na Entrevista o senhor Eliseu Campagnaro, no Morro do Vitor havia uma concentração de moradores de famílias
negras, o que nos leva a acreditar ter sido aquela a primeira habitação
coletiva(próximas) dessa nossa região,
chamada iicialmente de “Colina Burgo Escuro”, (Burgo é uma palavra portuguesa que significa povoado), depois Borgo Escuro, (Borgo é uma palavra italiana que significa povoado), o que não foi confirmado pelo senhor Eliseu, apesar dele possuir algumas escrituras públicas que consta, também, a denominação Córrego Escuro à mesma propriedade. Apesar do senhor Eliseu não ter confirmado, mas para mim, que sou Escrivão Público em Cartório há quase vinte anos, houve uma má interpretação na pronúncia pelo oficial do registro de imóveis, pois, ele foi lavrado muito tempo depois, ou seja, em 1933. Contudo, os três nomes foram usados pela pessoa jurídica que era a fazenda e a pila de café.
chamada iicialmente de “Colina Burgo Escuro”, (Burgo é uma palavra portuguesa que significa povoado), depois Borgo Escuro, (Borgo é uma palavra italiana que significa povoado), o que não foi confirmado pelo senhor Eliseu, apesar dele possuir algumas escrituras públicas que consta, também, a denominação Córrego Escuro à mesma propriedade. Apesar do senhor Eliseu não ter confirmado, mas para mim, que sou Escrivão Público em Cartório há quase vinte anos, houve uma má interpretação na pronúncia pelo oficial do registro de imóveis, pois, ele foi lavrado muito tempo depois, ou seja, em 1933. Contudo, os três nomes foram usados pela pessoa jurídica que era a fazenda e a pila de café.
Não há outro entendimento senão que a ordem cronológica das mudanças da denominações da fazenda foram Burgo, depois Borgo, depois Córrego Escuro.
Casa na fazenda de João Batista, onde morou Vitor Rocha Pimentel com a viúva do senhor João Batista, o provável primeiro proprietário da fazenda "Colina Burgo Escuro" e vendida depois para Cesare Guidetti
Na Entrevista
o senhor Eliseu Campagnaro relata o que sabe sobre esta história, e complementa com alguns documentos que comprovam os fatos que pesquisamos, ainda
que algumas coisas não estejam tão próximas da realidade que buscamos, mas que estamos
seguindo seu rumo, sempre com a finalidade de descobrir a formação social de Ibiraçu antes da colonização pelos imigrantes italianos, e deixarmos estes estudos como legado da história dos primórdios de Ibiraçu para as próximas gerações. Conforme podem observar, temos preocupação com o futuro de Ibiraçu quando falamos de propostas econômicas e políticas, mas nada nos impede de colaborar, também, com a busca da verdade real do nosso passado e não somente ensinada oficialmente, como é o caso da única que praticamente todos conhecemos.
Pé de coco aparentemente muito antigo que há onde era o lugar chamado 'Colina Burgo Escuro", depois Borgo Escuro, palavras que significam a mesma coisa(povoado), coma diferença da primeira palavra(Burgo) ser portuguesa e a segunda(Borgo), do vocabulário italiano. Vamos solicitar ao órgão competente para estudar a idade do pé de coco
Como sempre
lembramos, conhecemos a história de Ibiraçu a partir da colonização da Imigração Italiana. Não
existia até então - como ainda não sei se juntamos documentos importantes sobre os fatos, mas que acredito que estamos colaborando com a nossa história -, absolutamente uma
vírgula sobre o ante-colonização italiana, de forma que pudesse nos dar uma
noção básica sobre a existência de uma grande fazenda sediada no centro de
Ibiraçu, que provavelmente pertenceu a famílias de descendentes de portugueses, Batista/Pimentel, próximos dos Araújos, Motas, Martins e Silva, e que em nas cercanias da aludida fazenda viviam famílias de negros. A fazenda supostamente foi adquirida
pelo senhor Cesare Guidetti, falecido em 1896, a primeira pessoa a ser sepultada
no cemitério de Ibiraçu. A viúva de Cesare
Guidetti, dona Jacinta Guidetti por sua vez vendeu a fazenda adquirida
por seu esposo junto a família Batista[acredito que português], para o senhor Francisco Campagnaro
e irmãos, propriedade que até o presente pertence
aos filhos, um deles o senhor Eliseu Campagnaro que colabora com a confecção deste artigo que acredito será um documentário de estudos sobre este assunto que desconhecíamos, mas que doravante não poderá deixar de ser do conhecimento de todos e para sempre.
Toco de um monstruoso pé de jaca em "Colina Burgo Escuro" e vista da cidade de Ibiraçu, em frente a montanha do Monte Negro. Pés de jaqueiras perfazem um caminho que passava pela propriedade dos Fantins, depois Depizol, parque Alegre, Quixadá, etc, tendo em alguns lugares formado florestas com dezenas de árvores, o que nos leva a acreditar que as sementes eram levadas pelos tropeiros ou até os próprios animais das tropas que passavam pela trilha. No alto do morro da propriedade dos Fantins há um bebedouro de pedras muito antigo construído para os animais beberem sua água como ocorre até hoje
Ibira Sul: Senhor Elizeu, a fazenda adquirida
por seu pai e irmãos compreendia que região?
Senhor Eliseu
Campagnaro: A fazenda, que inicialmente chamava-se “Colina de Burgo Escuro”, depois “Borgo Escuro”, mas que foi chamada também de “Córrego
Escuro”, possivelmente por erro lavrado no Cartório, foi
adquirida por meu pai Francisco Campagnaro e irmãos, que antes moravam numa
fazenda em Perobas, terras que hoje pertencem
ao senhor Artlelino Modenesi. A propriedade foi adquirida junto a dona Jacinta Guidetti, provável viúva
de Cesare Guidetti, e começava aonde hoje é a padaria da subida para o bairro Cohab, que
foi inaugurada por meu tio Modesto Campagnaro e a partir de então sempre
existiu no centro de Ibiraçu. O terreno seguia
até na rua da entrada da Biquinha, onde funcionava a sede da fazenda que tinha
anexa uma pila de café em um prédio muito antigo que não sabemos quem
construiu e nem quando. De fundos, a fazenda se estendia até o lugar que hoje conhecemos por
Morro do Vitor, alusão ao antigo morador
Vitor Rocha Pimentel, onde existe ainda uma casa abandonada onde morava, depois de se casar com a viúva do senhor joão Batista. A sede da fazenda tem
hoje dois prédios, os quais foram construídos por meu pai em 1958, substituindo
duas construções cobertas de tabuinhas, numa delas onde nasci.
Ibira Sul: O senhor chegou a conhecer algumas pessoas
que moravam na fazenda, que inicialmente, conforme documentos que o
senhor apresentou, chamava-se “Colina Burgo Escuro”, palavra de origem
portuguesa(Burgo), depois Borgo Escuro, agora uma palavra do vocabulário italianos(Borgo) e depois Córrego Escurto?
Senhor Eliseu Campagnaro: Sim! Moravam algumas famílias de pessoas de origem negras. Lembro-me quando
criança que íamos ao local e lá encontrávamos
os moradores distribuídos por várias casas próximas uma das outras. Algumas famílias cultivavam canaviais. Lembro-me
do senhor Maximino Pinto dos Santos, Manoel
Rosa, a família de Laudicina Colodino e
seu irmão Francisco, conhecido por “Goaiba”, Olímpio Moreira, além de duas irmãs, senhoras Pedrinha e Maria. Todos os moradores eram negros. Seu Maximino fazia
açúcar mascavo e quando vendeu a sua propriedade para o meu pai tinha café, banana e
mil pés de cana de açúcar, conforme consta na escritura pública.
Venda de mil pés de cana e outras lavouras que havia na propriedade do senhor Maximino Pinto dos Santos, de origem negra, quando vendeu sua parte para o senhor Francisco Campagnaro. Em sua propriedade, o senhor Maximino produzia o açúcar mascavo
Ibira Sul: O senhor acredita que poderia ter uma civilização antes da chegada
dos Imigrantes Italianos?
Senhor Eliseu Campagnaro: Não temos como provar. Porém, as pessoas e a fazenda
era muito antiga, principalmente o prédio onde funcionava a pila de café do
lado de nossa casa, o que nos faz acreditar que alguma coisa existia antes dos imigrantes
italianos chegarem a esta região! Tudo
era muito antigo, principalmente o pavilhão de três prédios que havia aonde
hoje é a empresa Pimacol na avenida Cond´Eu
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OBS: A produção de
açúcar mascavo provavelmente foi uma prática adquirida por aquelas
famílias negras no engenho de açúcar que funcionava na fazenda das Palmas, do
outro lado do Morro do Vitor, município de Sauaçu, e que depois pertenceu a senhora
Catita Gratz, salvo engano, esposa de um senhor da família Loureiro.
A fazenda Palmas
também foi uma aquisição, contudo, não sabemos se ela pertenceu ao veterano de
guerra, Aristides Armínio Guaraná, que além de militar era também senhor de engenho na região
litorânea de Vila de Santa Cruz, aonde, por muitos anos os imigrantes italianos
trabalharam quando no Brasil chegaram, em situação análoga a de escravos.
Obra original do artista Zé Paulo Dileta que ilustra a sede da fazenda e nosso provável 1º nome "Colina Burgo Escuro", na avenida Cond´Eu, o coração da nossa cidade, depois Vila de Cond´Eu, posteriormente Vila de Guaraná, Pau Gigante, hoje, Ibiraçu