Em meados da última década setenta, tio Gervásio Pignaton adquiriu a fazenda da família
do senhor Borto Depizzol, sedida
na localidade de Parque Alegre de Baixo, próximo do centro de Ibiraçu.
No alto de um morro
da fazenda, atrás da sede, próximo a um quitungo, numa casa de madeira nativa coberta de zinco morava a
família do senhor Birau, pai de Luis
Birau, o famoso “Caranguejo”.
Como a fazenda adquirida estava em estado de abandono, devido
as condições físicas do proprietário anterior,
tio Gervásio decidiu dar uma empreitada
para “Caranguejo” roçar uma moita de guaimbê.
No dia marcado para
começar a empreitada, “Caranguejo” acomodou uma capanga em seu ombro, com uma meiota de cachaça
em seu interior, companheira inseparável, e foi à casa de tio Gervásio pegar a marmita e a foice para seguir para o
local de trabalho, o que realmente fez.
No local, antes do limiar do dia, “Caranguejo” analisou a roçada que iria fazer, e, como
não deveria ser de outra forma, antes mesmo da primeira foiçada desanimou
e se aproximou da capanga, a qual
exalava um aroma prazeroso que lhe
assediava, ou seja, a danada da cachaça.
Tomou alguns goles
rápidos, alimentou-se da comida da marmita, voltou a tomar alguns goles e dormiu. A tardinha,
quase que no horário do crepúsculo, “Caranguejo”
acordou, e com os olhos remelados
voltou a olhar com desdém a
capoeira que deveria ter começado a destruir.
Para evitar qualquer falatório por parte de tio Gervásio, pessoa extremamente exigente, “Caranguejo”
decidiu dar algumas foiçadas para
não ouvir de que nada fez naquele dia.
Aproximou-se da mais
alta touceira da vegetação e lascou
a foice.
Para azar de “Caranguejo”,
uma cobra “surucucu pico de jaca dormia exatamente no local que “Caranguejo”
balançou os galhos de guaimbê com
a foice.
A cobra iniciou então uma corrida incessante atrás de “Caranguejo”
que acabou por roçar com o próprio corpo
toda a capoeira antes que a noite chegasse,
vindo a cair numa vala, onde foi
encontrado no dia seguinte pelo
senhor Luis Sagrillo, que somente o encontrou ainda com
vida por ouvir gemidos.
Como resposta as
perguntas do senhor Luis Sagrillo, “Caranguejo”
dizia
Suru, Suru, únicas palavras que lhe saiam dos lábios roxeados pela umidade do brejo onde se acomodou aquela
noite inteira correndo da cobra que lhe perseguia.
Um comentário:
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK...
Muito bem lembrado essa história. Revivendo nossos "contos".
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