sexta-feira, 30 de março de 2012

CONTOS DE IBIRAÇU


Em meados da última década setenta, tio Gervásio Pignaton  adquiriu a fazenda da  família  do senhor Borto  Depizzol, sedida na localidade de Parque Alegre de Baixo, próximo do centro de Ibiraçu. 

No alto de  um morro da fazenda, atrás da sede, próximo a um quitungo,  numa casa de madeira nativa coberta de zinco  morava  a família do senhor  Birau, pai de Luis Birau, o famoso “Caranguejo”.

Como a fazenda adquirida estava em estado de abandono, devido as condições físicas  do proprietário anterior,  tio Gervásio decidiu dar uma empreitada para “Caranguejo” roçar uma moita de guaimbê.

No  dia marcado para começar a empreitada,  “Caranguejo”  acomodou  uma capanga em seu ombro, com uma meiota de cachaça em seu interior, companheira inseparável, e  foi à casa de tio Gervásio  pegar a marmita e a foice para seguir para o local de trabalho,  o que realmente fez.

No local, antes do limiar do dia, “Caranguejo” analisou  a roçada que iria fazer,  e, como  não deveria ser de outra forma, antes mesmo da primeira foiçada desanimou e se aproximou da  capanga, a qual exalava um aroma prazeroso  que lhe assediava, ou seja, a danada da cachaça.

Tomou alguns goles  rápidos, alimentou-se da comida da marmita,  voltou a tomar alguns goles e dormiu. A tardinha,   quase que no horário do crepúsculo, “Caranguejo” acordou, e  com os olhos  remelados  voltou a olhar  com desdém a capoeira que deveria ter começado a destruir.

Para  evitar  qualquer falatório por parte de  tio Gervásio, pessoa  extremamente exigente,  “Caranguejo”  decidiu dar algumas  foiçadas para não ouvir de que nada   fez naquele dia.

Aproximou-se  da mais alta  touceira da vegetação e lascou a  foice.

Para azar  de  “Caranguejo”,   uma cobra “surucucu pico de jaca dormia exatamente  no local que  “Caranguejo”  balançou os galhos de  guaimbê com a foice.

A cobra iniciou então uma corrida  incessante atrás de   “Caranguejo” que acabou por roçar  com o próprio corpo  toda a capoeira antes que a noite chegasse, vindo a cair numa vala, onde foi  encontrado no  dia seguinte pelo senhor  Luis  Sagrillo, que somente o encontrou ainda com vida  por ouvir gemidos.

Como  resposta as perguntas do senhor Luis Sagrillo, “Caranguejo”  dizia
Suru,  Suru,  únicas palavras que lhe saiam dos lábios  roxeados  pela umidade do brejo onde se acomodou aquela noite inteira correndo da cobra que lhe perseguia.  


Um comentário:

Lucas Charles disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK...
Muito bem lembrado essa história. Revivendo nossos "contos".